Há 84 anos, a cidade de Serrinha, na Bahia, tinha 46 mil habitantes.
Dentre eles uma senhora, conhecida por todos como Zizu, que se distinguia das outras pessoas em razão de um laboratório fotográfico que mantinha em casa.
Zizu acabara de se tornar avó de uma menina, a pequena Thereza Eugênia Paes da Silva.
A infância de Thereza transcorreu naquele ambiente analógico, iluminado por lâmpadas vermelhas e nenhuma luz natural, onde eram reveladas as fotos dos seus familiares e vizinhos.
Na adolescência, ela ganhou do pai uma máquina Kapsa – um modelo quadrado, mais barato que as outras câmeras da época – e começou a registrar a irmã nas paisagens de Serrinha.
As paixões de sua juventude eram a fotografia e as canções de Emilinha Borba e Angela Maria, que ouvia na Rádio Nacional.
Seu desejo mais profundo era conhecer Copacabana.
Ela estava com 24 anos quando viajou ao Rio de Janeiro pela primeira vez, acompanhada por amigos baianos (um deles dizia ser primo distante de João Gilberto).
Gostou tanto das orlas da Zona Sul, cheias de garotas e garotos bonitos, que não quis voltar para casa. Fez chegar à família o recado de que arranjaria moradia na cidade grande.
Tinha acabado de se formar em enfermagem na Bahia e logo conseguiu emprego no Hospital Federal de Ipanema, muitas das fotos foram tiradas após sair dos plantões no hospital.
Os primeiros registros foram feitos no palco, nos shows “Comigo Me Desavim”, de Maria Bethânia, em 1967, e “Roberto Carlos no Canecão”, em 1970 (uma das fotos da Thereza foi escolhida por Roberto para ser a capa do disco que ele lançou naquele ano).
Thereza foi ao primeiro show de Caetano Veloso no Brasil depois do exílio, em 1972.
Ela fez uma dupla exposição do cantor durante a apresentação de O que é que a baiana tem, no momento em que ele imitava os trejeitos de Carmen Miranda.
Foi com essa imagem que a fotógrafa conquistou a confiança de Guilherme Araújo, que geria as carreiras dos jovens artistas baianos.
Com a licença do influente Araújo, Thereza ganhou livre acesso aos artistas que o rodeavam.
Na década de 1970, a fotógrafa registrou o antológico show Fa-tal – Gal a todo vapor e fez a foto de capa do disco Cantar, ambos de Gal.
Tirou algumas das fotos mais memoráveis de Caetano, Gilberto Gil, Rita Lee, Alcione, Chico Buarque, Zezé Motta, Angela Ro Ro, Raul Seixas e tantos outros, com ar despretensioso, sem pose de artista.
Preferia usar a luz do dia e a iluminação do palco, nunca o flash. “Sempre tive senso de intimidade”, diz Thereza.